Jazz da idade da pedra


Quando Salsa retornou do Festival de Jazz de Ouro Preto trouxe na bagagem dois pequenos pedaços de pedra sabão. Ele disse que iria aprender a arte de esculpir. O tema para sua obra não poderia ser outro: o universo musical. Ao final de sua empreitada, constatou que é impossível aprender com apenas dois pedaços de pedra e uma pequena faca. O resultado foi um saxofonista e um baixista, que Salsa prefere chamar de "estudos sobre pedra". Infelizmente o estudo foi paralisado por simples motivo: não tem como conseguir pedras sabão em Vitória. Pelo jeito, a próxima etapa do estudo só se realizará após o festival de 2008. Enquanto aprecia a obra, ouça Bass region, com Paul Chambers.


"Na Primeira Vanguarda do Free Jazz"




Francis Davis

É verdade que uma certa literatura sobre jazz sustenta que a sonoridade que um músico consegue obter do instrumento é o prolongamento da voz e a chave da personalidade do intérprete. Mas o pianista Paul Bley é uma excepção à regra. Nos anos 60, em álbuns como "Footloose", com o contrabaixista Steve Swallow e o percussionista Barry Altschul, Bley limou uma certa emocionalidade excessiva do jazz avant-garde da década, para melhor a enquadrar no contexto mais intimista do trio para piano. Esse foi um importante contributo para o jazz, inicialmente ignorado pela atitude de muitos contemporâneos de Paul Bley no saxofone.

Ao piano, Paul Bley parece pesar cada nota antes de a tocar, mesmo ao fraseá-la num breve movimento; repete a frase, dá-lhe maior ênfase uma segunda vez, como se se debatesse com o que acabou de dizer e decidisse que tem de repeti-lo, com itálicos verbais para enfatizar a importância. Sem recear o silêncio, Paul Bley consegue imprimir-lhe swing. Na conversa faz o oposto: conta graças sem parar em voz alta, na atitude de um disc jockey de rádio e com um olhar inveteradamente observador do lado cómico de tudo.

Paul Bley foi um pioneiro discreto do movimento dos anos 60 que libertou os combos pequenos das regras formais normalmente aceitas.

Paul Bley estava presente na noite de 1959 em que Ornette Coleman, tocando um saxofone alto de plástico pouco habitual, fez a sua estreia na Costa Leste face ao Jazztet de Art Farmer-Benny Golson, no Five Spot, em Greenwich Village. Foi esta a bola de lançamento da primeira revolução que abalou o jazz após o be-bop dos anos 40. "Todos estavam lá, incluindo o Miles Davis, que ficou de pé a falar com o barman de costas voltadas para o palco, como se tivesse sede e passasse por acaso para tomar uma bebida", recorda Paul Bley numa entrevista recente dada na sua casa, a norte de Woodstock. Quem fosse alguém no jazz da época poderia ter estado presente nessa noite. Mas Bley era possivelmente o único a saber o que se podia esperar de Coleman e do trompetista Don Cherry, pois tinha tocado frequentemente com eles, no ano anterior, em Los Angeles (tinham tocado na formação de Bley, juntamente com Charlie Haden e Billy Higgins, respectivamente o contrabaixista e percussionista que Coleman trouxera para Nova Iorque). "Quando Ornette acabou e o Jazztet começou a tocar, voltei-me para o barman e convidei-o a dançar", conta Bley. "Depois do Ornette, este grupo que, uma semana antes, tinha o melhor som do mundo, parecia agora a orquestra de alta sociedade do Hotel Taft".

Numa época em que, na sua maioria, os músicos baseavam os solos improvisados e as composições originais em 32 compassos, A-A-B-A, o formato da canção da canção popular, recorrendo a mudanças de acordes e a chorus e bridges bem definidos, "o Ornette passava directamente de A para Z sem ninguém compreender", afirma Bley. "Sentiram-se ameaçados. Nas semanas seguintes, eu não podia descer a Boadway sem que algum músico meu conhecido me tocasse no cotovelo para me pedir que explicasse o que é que o Ornette andava a fazer".

Paul Bley era a pessoa indicada para responder, já que ele e o trompetista Herbie Spanier, por instigação de Bley, tinham tocado em Los Angeles duetos longos, totalmente improvisados, sem mudanças de acordes nem tempos definidos em 1957, um ano antes da primeira actuação de Bley com Coleman. Mas apesar da primeira experiência de Bley na passagem de A a Z, ele parecia uma figura algo periférica do free jazz, o movimento desencadeado por Coleman. Nos finais dos anos 60, Paul Bley tinha-se tornado um caso peculiar nesta revolução e o segundo em influência de todos os pianistas free, logo após Cecil Taylor.

Nascido em Montreal em 1932, Paul Bley tinha tocado com Charlie Parker e Lester Young quando era jovem. A entrada para o agrupamento de Sonny Rollins, em 1963, contribuiu para aumentar a sua credibilidade junto dos críticos e músicos que lamentavam que, na maior parte dos casos, o free jazz estivesse aberto a músicos amadores barulhentos e sem qualquer experiência. No entanto, para desvantagem de Bley, a música dele era invulgarmente calma no meio do free jazz e o facto de ser branco fazia-o correr o risco de ser excluído de um movimento cuja maioria negra se tornava cada vez mais separatista.

Agora que os fumos dos anos 60 se extinguiram, tem havido uma mudança de opinião, há muito esperada, a favor de Paul Bley. "Cecil Taylor é um fantástico virtuoso que encontrou a sua própria maneira de tocar, mas Paul Bley é para Ornette Coleman o que Bud Powell foi para Charlie Parker", afirmou recentemente o influente crítico Stanley Crouch, exprimindo aquilo que já se está a tornar um sentimento comum. "Foi ele quem compreendeu o que Ornette estava a fazer e que trouxe esse tipo de mobilidade tonal e de liberdade melódica para o piano".

Stanley Crouch é conselheiro para o "Jazz at Lincoln Center", um programa que pretende manter certas realidades como aquelas que Coleman rejeitou. Mas Wynton Marsalis, director artístico do "Jazz at Lincoln Center", há muito manifestou admiração pela música primitiva de Coleman, mesmo quando condenava a maior parte do que lhe veio a suceder. Marsalis e Crouch costumam estar no mesmo comprimento de onda, e a impressão favorável de Crouch a propósito de Bley contribui para explicar a sua participação na nova série do "Jazz at Lincoln Center" intitulada "Duetos no rio Hudson", que começa no sábado (Bley voltará a tocar com Haden, num programa que irá também apresentar duetos pelo pianista Kenny Barron e pelo saxofinista alto Gary Bartz).

Reconfigurar Ornette Coleman para piano não foi uma aventura fácil, uma vez que isso foi feito essencialmente in absentia e perante desafios aparentemente intransponíveis: as formações iniciais de Coleman não tinham piano, e o tom free estava aparentemente nos antípodas dos instrumentos temperados. Mas os contributos de Bley para o jazz durante os últimos 40 anos não acabam aí. Tendo sido um dos muitos músicos tentados pelas potencialidades dos sintetizadores e dos teclados em cadeia dos fins dos anos 60 e princípios de 70, foi também um dos poucos a usá-los para algo mais do que procurar efeitos sonoros de fundo e espaços rítmicos funky. A sua entrada para o movimento trouxe vantagens surpreendentes, tanto para Bley como para a música improvisada em geral.

Ao gravar o álbum a solo "Open to Love" para a etiqueta alemã ECM em 1972, num esforço para reproduzir os sons longos do sintetizador, Bley pediu que o microfone fosse colocado mais perto e que fosse dada atenção especial ao timbre na gravação do piano - técnicas de gravação que se tornaram a marca da ECM, embora tenham sido mais associadas a Keith Jarrett do que a Bley. Paul Bley publicou recentemente um texto de memórias em que demonstra ser um crítico de jazz inteligente e um interessante contador de histórias. Em "Stopping Time" (Vehicule Press), escrito com David Lee, Bley recorda que quando chegou a Nova Iorque pela primeira vez, no início da década de 50, um grupo de compositores, incluindo George Russell e John Carisi, estava a desafiar a ortodoxia do be-bop escrevendo pautas em que era usada a atonalidade e a métrica livre. Sopravam ventos de mudança, mas esta revolução radical estava condenada ao fracasso porque, depois de lerem as pautas, os músicos "lambiam" sons be-bop que lhes eram mais familiares, nos solos improvisados. Coleman foi uma revelação para Bley, quando este o ouviu pela primeira vez, porque explorava as mesmas vias que os compositores de Nova Iorque, mas fazia-o em palco, numa vitória decisiva da improvisação.

"Mas ele estava ainda a usar um ritmo fixo, e eu achava que isso era um retrocesso", comenta Bley. A inovação que Paul Bley aguardava veio a acontecer finalmente em 1964, quando o contrabaixista Gary Peacock o chamou para tocar em Greenwich Village com o saxofonista tenor Albert Ayler e o percussionista Sunny Murray. A percussão anárquica de Murray criava um contraponto livre, o que era a confirmação, para Bley, de que estavam derrubadas as últimas barreiras: os instrumentos rítmicos estavam libertos do seu papel tradicional de acompanhamento.

Este aspecto relaciona-se com um dos principais aspectos do contributo de Paul Bley para o jazz, que é a liberdade rítmica e harmónica que ele permitiu aos seus diversos contrabaixistas e percussionistas a partir da década de 60. O grupo de Miles Davis, em meados da década de 60, com Herbie Hancock, Ron Carter e Tony Williams, teve o crédito merecido de abrir o caminho para as secções rítmicas subjacentes aos instrumentos de sopro. Mas foi Paul Bley quem trouxe a mesma liberdade para o trio em piano, com contrabaixo e percussão como parceiros melódicos interactivos. O que tornou tudo isto ainda mais excepcional foram as constantes mudanças na composição dos trios de Bley. Músicos que tocam regularmente juntos poderiam até ser casados, afirmou. Nos anos 60, a maneira de tocar de Bley parecia ser indissociável da escrita de Carla Bley, sua primeira mulher, uma pianista que, só no fim dessa década, criou uma identidade como algo mais do que o produto criativo da costela de Adão do marido.

Após o divórcio, Bley associou-se a Annette Peacock, anteriormente casada com Gary Peacock, que, não tendo formação musical e sem ter escrito sequer uma nota de música, desabrochou para a composição depois de se ter casado com Paul Bley, em total harmonia com o marido. Durante algum tempo, Bley tocou novas composições das duas mulheres, e Gary Pecock foi frequentemente o contrabaixista. "A música era fácil", recorda Bley. "Mas as relações...". Actualmente, Bley está casado há quase 20 anos com a artista de vídeo Carol Goss, de quem é sócio numa companhia independente de produção de discos e vídeo dos anos 70, e prefere dispensar a música escrita.

O verdadeiro contributo de Bley para o Jazz foi a liberdade rítmica e harmónica que permitiu aos contrabaixistas e percussionistas a partir da década de 60

"O que eu poderia utilizar é tão ínfimo que pode ser totalmente improvisado", afirma. Bley grava assiduamente para diversas etiquetas europeias, fazendo um tipo diferente de álbum, em trio ou solo, de cada vez. As gravações que fez para a ECM, incluindo o recente "Not Two, Not One" (ECM 1670) com Gary Peacock e o percussionista Paul Motian, tendem a ser especulativas e impressionistas - embora frias - enquanto as gravações para a marca dinamarquesa SteepleChase são mais directas e líricas, incluindo frequentemente a interpretação, própria de Bley, de temas recolhidos nos standards do jazz e da pop. "Notes on Ornette" (SteepleChase SCCD 314377), com o contrabaixista Jay Anderson e o percussionista Jeff Hirschfield, é um programa expontâneo do mais puro que há em Ornette Coleman, e que revela a verdadeira essência das origens de Paul Bley.

Desde 1993, Paul Bley ensina duas vezes por mês no conservatório de música de New England, em Boston. Bley aconselha os alunos a tentar a execução sem acompanhamento e é este o domínio que mais o interessa actualmente. "Durante a tarde, no hotel, temos uma ideia que podemos experimentar nessa noite", afirma Bley.

"Depois de termos tocado durante mais de 40 anos, sabemos já ouvir o público respirar", continua. "Mas não me interessa muito o público, embora esta afirmação pareça egoísta. Um concerto deve servir para sabermos no fim aquilo que desconhecíamos no início".
Tradução Eva Bacelar

Ornette Coleman

Ornette Coleman é um personagem que desafia classificações. Inventor do free jazz, Coleman pode ser um revolucionário, um iconoclasta, um visionário talvez - tudo menos um estilista "padrão" do jazz. Adora brincar com fogo, isto é, flertar perigosamente com o excesso, o mau gosto, a fragmentação, levando-nos desse modo (e é exatamente essa a sua intenção) a questionar tais conceitos. Autodidata, Coleman enfrentou bastante oposição no meio musical, no início da carreira, devido ao seu estilo "feio" de tocar. Por força das circunstâncias, precisou exercer diversas profissões e "bicos" que nada tinham a ver com música.

Certamente tal incompreensão calou fundo na personalidade desse homem de temperamento manso e cordato. Mas suas convicções estéticas eram fortes e permaneceram latentes, prontas para explodir, até que, em 1958, Coleman encontrou sua turma: um grupo de músicos com idéias afins, entre os quais se encontravam o trompetista Don Cherry e o contrabaixista Charlie Haden.

Em 1960 Coleman grava o disco que constitui um dos documentos fundamentais do jazz moderno: Free Jazz, com um quarteto duplo formado por Coleman, Don Cherry (pocket trumpet), Eric Dolphy (clarone), Freddie Hubbard (trompete), Charlie Haden e Scott LaFaro aos contrabaixos, e Ed Blackwell e Billy Higgins às baterias.

Nas décadas seguintes, Coleman grava um número considerável de discos, como líder e como convidado, ora com grandes nomes da vanguarda jazzística, ora com músicos pouco conhecidos. Sua carreira e sua evolução estilística ao longo do tempo parecem espelhar o caráter de sua música, isto é, imprevisível. Sua música é ora genial, ora trivial, ora concentrada, ora dispersiva, ora ambiciosa, ora despretensiosa. Além de seus colegas habituais, Coleman também tocou com quarteto de cordas, com músicos oriundos do rock, com trio sem piano, e em duo com contrabaixo. E deve-se registrar as suas incursões ocasionais pelo sax tenor, e, mais por provocação, pelo trompete e o violino, os quais toca de maneira anti-acadêmica, muito pessoal.

Cecil Taylor

Cecil Percival Taylor, o mais importante pianista do free jazz, nasceu nas redondezas de New York em 1929. Sua mãe, que tocava piano e gostava de Duke Ellington, foi uma importante influência em seu gosto musical. Estudou no New York College of Music e no New England Conservatory (Boston), onde, apesar de desgostar do ensino acadêmico, descobre compositores contemporâneos como Bartók e Stravinsky, cujas ousadias rítmicas e harmônicas o fascinam. Também é influenciado pelo jazz de Charlie Parker, Bud Powell, Thelonious Monk e Dave Brubeck. No início dos anos 50 Taylor tocou em pequenos grupos de R&B e swing. Em meados dos anos 50 formou seu próprio grupo (com Steve Lacy no sax soprano, Buell Neidlinger no contrabaixo e Dennis Charles nas bateria) e em 1956 gravou seu primeiro disco, Jazz Advance. Trata-se de uma das mais extraordinários álbuns de estréia de um músico de jazz, pois a música de Taylor nos anos 50 já era mais radical do que a de Ornette Coleman em 1959-1960, provando que Taylor efetivamente antecipou o free jazz.

No restante dos anos 50 e durante os anos 60 Taylor conseguia mostrar seu trabalho apenas de maneira intermitente, devido à radicalidade de suas idéias. Isso fez com que ele inclusive enfrentasse dificuldades financeiras. Apesar disso, consegue manter uma total integridade e um nível consistentemente alto em suas gravações. Nos anos 60, seus principais colaboradores são Jimmy Lyons (sax alto), Alain Silva (contrabaixo), Sunny Murray e Andrew Cyrille (bateria). Em 1964 foi um dos fundadores da Jazz Composers' Guild (da qual participaria também Carla Bley) e em 1968 fez um disco com a Jazz Composers' Orchestra. Nos anos 70, sua música finalmente consegue ter exposição maior. Ensina na University of Wisconsin, no Antioch College e no Glassboro State College. Recebe uma bolsa Guggenheim e chega a tocar na Casa Branca. Nos anos 80 e 90 sua reputação cresceu ainda mais, e sua música passou a receber o reconhecimento devido. Fez diversas gravações solo e em duo, tocando inclusive com Max Roach. A morte de seu colaborador de tantos anos Jimmy Lyons, em 1986, com câncer no pulmão, foi um golpe, mas Taylor continuou trabalhando incansavelmente.

Category: Music Genre: Jazz Artist: Ornette Coleman, Paul Bley, Cecil Taylor The New York Times Secção de Arte, págs. 29 e 30, Domingo, 13 de Fevereiro de 2000.

Oscar Peterson


"Canadense tinha 82 anos e faleceu devido a insuficiência renal. Técnica do músico se destacava pela velocidade nos solos"

O pianista canadense Oscar Peterson, uma das grandes lendas do instrumento no jazz, morreu neste domingo (23) de insuficiência renal. Ele tinha 82 anos.

Conhecido pelas levadas nas duas mãos, pela técnica primorosa e pelos solos velozes, Peterson foi um dos músicos mais gravados do gênero, tanto como líder de banda como instrumentista acompanhante. Ele é considerado um nome de grande influência sobre gerações subseqüentes de músicos - a também canadense Diana Krall é uma delas.
Oscar Peterson nasceu em Montréal no dia 15 de agosto de 1925 e começou a estudar piano clássico aos seis anos. Ao completar 14, ganhou um concurso amador e passou a trabalhar regularmente numa rádio local. Em 1949 foi convidado por Norman Granz a integrar seu grupo "Jazz at the Philharmonic", que excursionava pelos Estados Unidos com celebridades como Roy Eldridge, Zoot Sims e Ray Brown. Desde que fez uma aclamada aparição no Carnegie Hall de Nova York no mesmo ano, Peterson recebeu um grande número de prêmios e títulos, como um Grammy pelo conjunto da obra no ano de 1997 - foram oito estatuetas no total.

O Canadá concedeu a ele a mais alta honra para civis e também o tornou a primeira pessoa a ser estampada nos selos de país ainda em vida.

Em entrevista à agência Reuters em 2000, Peterson afirmava que os jovens jazzistas tinham dificuldades distintas do racismo que enfrentou décadas atrás.

"A luta deles é outra. Eles precisam superar um obstáculo diferente: a invasão da música pop. E muitos deles são mais inseguros. As dificuldades são maiores hoje, mas penso que o jazz voltará a conquistar terreno.

Conhecido no Brasil.
Peterson era muito conhecido no Brasil, onde esteve no final dos anos 80, com o trio então formado por David Young no baixo e Martin Drew na bateria. Também esteve em novembro de 1998 no país, com shows no Teatro Municipal de São Paulo e uma apresentação gratuita no parque Ibirapuera.

O pianista era considerado um improvisador de muito swing e forte personalidade, sendo sua música conhecida pela força e vitalidade, sendo premiado várias vezes pela revista "Downbeat", durante os anos 50.

Formou o primeiro trio com a guitarra de Herb Ellis e o baixo de Louis Hayes; o segundo, mais famoso, tinha Ray Brown no baixo e Ed Thigpen na bateria, tendo durado de 1959 a 1965; o terceiro era formado por Sam Jones no baixo e Bob Durham na bateria e durou até 1967.

A partir dos anos 80, Peterson passou a realizar trabalhos mais intimistas, principalmente através de solos e duetos, como o gravado com o guitarrista Joe Pass, em Paris, na sala "Le Pleyell".

Segundo o crítico James Collier, Oscar Peterson pode ser definido como um eclético. Quando executa suas baladas, se assemelha a Art Tatum, quando toca bebop, lembra Bud Powell - sem contar as influências que teve de músicos como Errol Garner e Teddy Wilson.


FONTE: Globo.com

Trompete Brasileiro



O trompetista carioca Claudio Roditi, 59 anos, é bem mais conhecido e justamente apreciado por jazzófilos norte-americanos e europeus do que por aficcionados nativos que não tiveram a oportunidade de ouvi-lo ao vivo, no Rio, antes de 1970, quando arrumou as malas e voou para Boston, a fim de completar sua formação musical no agora sexagenário Berklee College.

Em 1976, Roditi fixou-se em Nova York. Aos poucos, começou a ser respeitado pelos colegas da Big Apple, não apenas por se tratar de um músico pronto para dar brilho a qualquer conjunto de jazz com sotaque brasileiro ou caribenho. Técnica e talento de sobra despertaram a atenção dos já então renomados saxofonistas Michael Brecker e Paquito D'Rivera e - principalmente - de Dizzy Gillespie, que apadrinhou o discípulo estilístico, convocando-o para a United Nations Orchestra, em 1988.

Roditi foi um dos sete eminentes trompetistas que, em janeiro de 1992, um ano antes da morte de Dizzy, reuniram-se em torno do mestre, no clube Blue Note, e gravaram para a Telarc o cd "To Dizzy with Love" (os outros eram Doc Cheatham, Jon Faddis, Wynton Marsalis, Red Rodney, Wallace Roney e Charlie Sepulveda).

Sua cotação subiu ainda mais em 1996, quando atuou como sideman do lendário pianista Horace Silver no álbum "The Hardbop Grandpop" (Impulse 192). Nos últimos quatro anos, Roditi tem aparecido na lista dos dez melhores trompetistas em atividade na eleição anual dos leitores da Down Beat.

A partir de 2003, o jazzman brasileiro associou-se ao pianista alemão Klaus Ignatzek e ao baixista belga Jean-Louis Rassinfosse - este último responsável, em grande parte, pela qualidade de alguns dos últimos discos de Chet Baker, gravados em 1985 (Chet's choice, Cris Cross; Live in Bologna, Dreyfus).

O terceiro registro do trio Roditi-Ignatzek-Rassinfosse é de agosto do ano passado, chama-se "Reflections" (NH 2065) e vem de ser lançado lá fora pela etiqueta alemã Nagel-Heyer, que já editara os cd's "Three for One" (NH 2028) e "Light in the Dark" (NH 2047), muito bem acolhidos pela crítica.

Reflections - como indica a faixa-título de 6m27, fluente, clara e límpida como um rio de trutas - é um álbum no qual três grandes músicos, despojados de quaisquer pré-conceitos meditam e trocam, durante quase uma hora, idéias lúcidas, concatenadas, a partir de 11 temas - oito de Ignatzek, um de Rassinfosse e dois de Dizzy (Ow!, com Roditi no trompete assurdinado exibindo sua articulação gillespiana, e o plangente Con alma).

Todas as faixas contêm "música consistentemente deliciosa, habilmente interpretada", na opinião da musicóloga e crítica de jazz Judith Schlensiger. Merecem destaque especial o desenvolvimento interativo do belo, alegre e balançante Minor ex (4m34), no qual Roditi demonstra ter forjado um perfeito amálgama dos estilos de Kenny Dorham e de Chet Baker, e o sublime consenso entre o piano e o flugelhorn em Another time (6m06), com Klaus e Claudio escandindo as frases melódicas como versos, com rimas e aliterações, por sobre ou entre as notas suculentas do baixo de Rassinfosse. Texto: Luiz Orlando Carneiro, Jornal do Brasil.

+ sobre IDRISS BOUDRIOUA


Um francês com alma brasileira. Essa é a melhor definição do saxofonista Idriss Boudrioua, que acaba de completar 25 anos de Brasil. Consagrado pelo público e crítica como um dos melhores instrumentistas do país, Idriss tem motivos de sobra para festejar. Recém-chegado de uma grande turnê internacional em que acompanhou Ed Motta e seu Septeto Euphônico, Idriss acaba de lançar seu sétimo álbum solo, Base & Brass, com o grupo homônimo, numa homenagem a Phil Woods, saxofonista que influenciou uma geração inteira de músicos: "ouvi Phil Woods pela primeira vez quando tinha por volta dos meus 15 anos. Aqueles arranjos maravilhosos, até então desconhecidos para mim, tocaram-me tão profundamente que por dias não consegui parar de ouvi-lo", disse.Gravado de fevereiro a dezembro de 2006 no estúdio Tenda da Raposa, o CD Base & Brass traz nove faixas, cinco delas Trois Amis Blues, Bop for Me, Last Tear, Je Me Souviens de Wes e West Coast, compostas e produzidas por Idriss Boudrioua, que também assina todos os arranjos. O CD Base & Brass foi lançado na noite do dia 21 de julho, no Auditório do Imaculada.
No TIM Valadares Jazz Festival, Idriss se apresentou ao lado de músicos de altíssimo nível, como o saxofonista Nivaldo Ornelas (saxofone), que dispensa apresentações para o público de Minas Gerais, afinal, ele encarna toda a energia da música de Minas, desde os tempos do Clube da Esquina. Nos sopros, a banda Base & Brass ainda tem Moisés Alves (trompete), Aldivas Ayres (trombone) que tocou com o Cidade Negra, Alcione, João Bosco, Elba Ramalho e Ed Motta. No contrabaixo acústico, Sérgio Barrozo é praticamente uma lenda viva que acompanhou a geração da bossa nova, formada por Vinicius de Moraes, Nara Leão, Maysa, Roberto Menescal, Elis Regina, Marcos Valle e muitos outros. Dario Galante (piano) é outro talento da B&B. Já se apresentou com várias feras, entre elas Mauro Senise, Carlos Malta, Pascoal Meirelles e o canadense Jean Pierre Zanella, além de ter aberto o festival de Jazz de New Orleans, em 2001. Na bateria, a B&B ainda tem o jovem Rafael Barata (bateria), que apesar da pouca idade, já coleciona muitas apresentações com nomes consagrados da MPB, como Rosa Passos, Edu Lobo, Zizi Possi, Osmar Milito, Durval Ferreira, Alan Fougeret, Zezé Motta, Emílio Santiago, Ney Matogrosso, Zé Renato, Hermeto Pascoal, entre outros nomes. Agradecemos ao Edú pela dica do novo CD, possívelmente estaremos postando o mesmo para ser baixado, valeu Edú!

Idriss Boudrioua


Biografia
Idriss nasceu no dia cinco de dezembro de 1958 em Massy Palaiseau, França. Iniciou seus estudos musicais aos onze anos no conservatório de Arpajon, com o professor Maurice Delabre, ex-integrante da orquestra da Guarda Republicana de Paris. Em 1981, atuou no disco do pianista Jean Pierre Mas, ao lado do baixista Cesário Alvim, do saxofonista Jean Louis Chautamps e do trompetista Cláudio Roditi. Ainda em Paris, participou de jam sessions com o trompetista Chet Baker, o saxofonista Bob Moover, a pianista Tânia Maria e outros músicos internacionais.

Já no Brasil - país sonhado desde criança -, tocou com vários instrumentistas brasileiros de nome internacional e, em 1986, apresentou-se no 2º Free Jazz Festival com seu quinteto. Em 1992, Idriss integrou o sexteto do trompetista francês, Jean Loup Longnon, fazendo várias apresentações na França. Na ocasião, encontrou os saxofonistas Steve Grossman e Jim Snidero, com quem teve o prazer de tocar.

Um dos saxofonistas mais requisitados no cenário brasileiro, Idriss tem acompanhado grandes nomes da mpb: Toninho Horta, Marcos Valle, João Donato, Fátima Guedes, Rosa Passos, Leny Andrade, Célia Vaz, Tito Madi, Johnny Alf, Joana, Silvio Cezar, Alexandre Pires, dentre outros -, em apresentações ao vivo ou em importantes registros fonográficos.

Seu cd em parceria com o guitarrista Alex Carvalho, "Central Park West", é considerado um dos melhores do gênero já lançados no Brasil. Idriss se apresentou em 2001 no Festival Internacional de Jazz de Berna (Suíça) com o clarinetista e saxofonista Paquito de Rivera, o trombonista Raul de Souza e o trompetista Cláudio Roditi. Em 2000, lançou "Joy Spring", que incluiu duas composições de sua autoria: "Mon ami Xande" e "Playing for Canuto", esta última dedicada ao também saxofonista Zé Canuto.

No início de 2004, Idriss integrou o quarteto de Michel Legrand em uma série de 12 apresentações no Mistura Fina, no Rio de Janeiro. Nessa mesma ocasião, gravou junto com Legrand um cd em homenagem ao pianista Luís Eça. Há 24 anos vem contribuindo para a formação de grandes saxofonistas.

Com quatro discos esgotados, lançou recentemente seu quinto trabalho, “Paris-Rio”, lançado pela gravadora Delira Música, onde presta homenagem aos encontros e aos amigos que pontuaram o seu percurso musical entre as duas cidades. Apresentando composições de sua autoria, neste cd o saxofonista é acompanhado por grandes músicos do cenário brasileiro e internacional.

Discografia
1986 Esperança - Visom
1987 Jamal - Visom
1996 Central Park West (c/ Alexandre Carvalho) - Independente
2000 Joy Spring - Independente
2004 Paris-Rio - Delira Música
2006-Base & Brass -

Delicatessen dá novo fôlego ao Jazz Brasileiro

Texto de Bárbara de Paula
Você gosta de Jazz? Sim?! Ótimo, temos boas novas. Se essa não for a sua ‘praia’, continue lendo assim mesmo porque você pode até não curtir jazz, mas uma vez que é leitor da Paradoxo, com certeza adora novidades. Nesta edição, a gente apresenta a você o álbum de estréia do Delicatessen, Jazz + Bossa, lançado este mês, pela Tratore.
Este projeto reuniu quatro músicos: Ana Krueger [Voz], Carlos Badia [Violão], Nico Bueno [Baixo], Mano Gomes [Bateria] e um publicitário aficionado por música, Beto Callage. Sabe no que deu? Em um disco fácil de ouvir, daquele tipo que você escuta sem pular nenhuma faixa e sem perceber o tempo passar.
Delicatessen surpreende pela simplicidade. O álbum é composto por 14 canções que mesclam o estilo cool e intimista das cantoras de jazz dos anos 1950 com a despretensão da bossa nova. Os arranjos são simples e sem afetações. A interpretação de Ana Krueger é impecável: ela, graças a Deus, foge do gargantismo e canta de forma doce e contida, o que não omite a potência de sua voz.
O repertório deste disco não é óbvio. Não espere ouvir canções que ficaram conhecidas nas vozes de Billie Holiday, Nina Simone ou Louis Amstrong, inerentes a coletâneas brasileiras de jazz [sic]. Este álbum apresenta canções menos populares, mas não menos clássicas como Angel Eyes, In A Mellow Tone, Black Coffee e In a Sentimental Mood. Vale destacar as duas faixas bônus, Todos os Dias e Setembro, compostas por Callage e Badia e cantadas em português.
Você, leitor antenado, deve estar imaginado que este projeto surgiu em São Paulo depois de uma jam session, assim como aconteceu com a big band Funk Como Le Gusta. Não! Eles são gaúchos, o que comprova que o sul do nosso País não produz apenas boas bandas de pop-rock.

Jazz brasileiro
Quando o assunto é jazz brasileiro, é quase impossível encontrar uma definição ou entrar em consenso. O Brasil é um caldeirão de ritmos e cada vez que eles são misturados, acabamos por criar novos e variados estilos musicais.
Imagine que já existe Afrojazz [jazz com batuque], que tem como representante o grupo Têrrero de Jesus, que apresenta interpretações jazzisticas de pontos cantados do Candomblé.
A partir desta dinâmica, Delicatessen é jazz brazuca porque bossa nova é música brasileira. Mas se existe jazz brasileiro, será que ainda haverá um samba americano ou europeu, Hein?! Hein?!
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Delicatessen, é a soma de três, experientes, e exelentes músicos, Carlos Badia (violão), Edu Martins (contrabaixo) e Mano Gomes (bateria), á delicadeza do canto, de Ana Kruger, uma cantora de grande potencial, que pertence a estirpe das raras cantoras sem vibratos, cuja voz cheia de previlégios é cristal. Daí a singularidade deste disco. Quem souber ouvir verá como ela faz bossa & jazz, sem maneirismos, sempre com a mesma ternura, o mesmo suingue. No disco, que conta com as participações especiais de Chico Ferreti (piano) e Luiz Fernando Rocha (flugelhorn), o quarteto recria doze standards do jazz de nomes como Duke Ellington, Burke & Webster, George & Ira Gershwin e Ray Noble, entre outros.Fonte Brazuca CD’s
Delicatessen Jazz + Bossa gravadora Tratore R$ 34, 90 em média