Trompete Brasileiro



O trompetista carioca Claudio Roditi, 59 anos, é bem mais conhecido e justamente apreciado por jazzófilos norte-americanos e europeus do que por aficcionados nativos que não tiveram a oportunidade de ouvi-lo ao vivo, no Rio, antes de 1970, quando arrumou as malas e voou para Boston, a fim de completar sua formação musical no agora sexagenário Berklee College.

Em 1976, Roditi fixou-se em Nova York. Aos poucos, começou a ser respeitado pelos colegas da Big Apple, não apenas por se tratar de um músico pronto para dar brilho a qualquer conjunto de jazz com sotaque brasileiro ou caribenho. Técnica e talento de sobra despertaram a atenção dos já então renomados saxofonistas Michael Brecker e Paquito D'Rivera e - principalmente - de Dizzy Gillespie, que apadrinhou o discípulo estilístico, convocando-o para a United Nations Orchestra, em 1988.

Roditi foi um dos sete eminentes trompetistas que, em janeiro de 1992, um ano antes da morte de Dizzy, reuniram-se em torno do mestre, no clube Blue Note, e gravaram para a Telarc o cd "To Dizzy with Love" (os outros eram Doc Cheatham, Jon Faddis, Wynton Marsalis, Red Rodney, Wallace Roney e Charlie Sepulveda).

Sua cotação subiu ainda mais em 1996, quando atuou como sideman do lendário pianista Horace Silver no álbum "The Hardbop Grandpop" (Impulse 192). Nos últimos quatro anos, Roditi tem aparecido na lista dos dez melhores trompetistas em atividade na eleição anual dos leitores da Down Beat.

A partir de 2003, o jazzman brasileiro associou-se ao pianista alemão Klaus Ignatzek e ao baixista belga Jean-Louis Rassinfosse - este último responsável, em grande parte, pela qualidade de alguns dos últimos discos de Chet Baker, gravados em 1985 (Chet's choice, Cris Cross; Live in Bologna, Dreyfus).

O terceiro registro do trio Roditi-Ignatzek-Rassinfosse é de agosto do ano passado, chama-se "Reflections" (NH 2065) e vem de ser lançado lá fora pela etiqueta alemã Nagel-Heyer, que já editara os cd's "Three for One" (NH 2028) e "Light in the Dark" (NH 2047), muito bem acolhidos pela crítica.

Reflections - como indica a faixa-título de 6m27, fluente, clara e límpida como um rio de trutas - é um álbum no qual três grandes músicos, despojados de quaisquer pré-conceitos meditam e trocam, durante quase uma hora, idéias lúcidas, concatenadas, a partir de 11 temas - oito de Ignatzek, um de Rassinfosse e dois de Dizzy (Ow!, com Roditi no trompete assurdinado exibindo sua articulação gillespiana, e o plangente Con alma).

Todas as faixas contêm "música consistentemente deliciosa, habilmente interpretada", na opinião da musicóloga e crítica de jazz Judith Schlensiger. Merecem destaque especial o desenvolvimento interativo do belo, alegre e balançante Minor ex (4m34), no qual Roditi demonstra ter forjado um perfeito amálgama dos estilos de Kenny Dorham e de Chet Baker, e o sublime consenso entre o piano e o flugelhorn em Another time (6m06), com Klaus e Claudio escandindo as frases melódicas como versos, com rimas e aliterações, por sobre ou entre as notas suculentas do baixo de Rassinfosse. Texto: Luiz Orlando Carneiro, Jornal do Brasil.

+ sobre IDRISS BOUDRIOUA


Um francês com alma brasileira. Essa é a melhor definição do saxofonista Idriss Boudrioua, que acaba de completar 25 anos de Brasil. Consagrado pelo público e crítica como um dos melhores instrumentistas do país, Idriss tem motivos de sobra para festejar. Recém-chegado de uma grande turnê internacional em que acompanhou Ed Motta e seu Septeto Euphônico, Idriss acaba de lançar seu sétimo álbum solo, Base & Brass, com o grupo homônimo, numa homenagem a Phil Woods, saxofonista que influenciou uma geração inteira de músicos: "ouvi Phil Woods pela primeira vez quando tinha por volta dos meus 15 anos. Aqueles arranjos maravilhosos, até então desconhecidos para mim, tocaram-me tão profundamente que por dias não consegui parar de ouvi-lo", disse.Gravado de fevereiro a dezembro de 2006 no estúdio Tenda da Raposa, o CD Base & Brass traz nove faixas, cinco delas Trois Amis Blues, Bop for Me, Last Tear, Je Me Souviens de Wes e West Coast, compostas e produzidas por Idriss Boudrioua, que também assina todos os arranjos. O CD Base & Brass foi lançado na noite do dia 21 de julho, no Auditório do Imaculada.
No TIM Valadares Jazz Festival, Idriss se apresentou ao lado de músicos de altíssimo nível, como o saxofonista Nivaldo Ornelas (saxofone), que dispensa apresentações para o público de Minas Gerais, afinal, ele encarna toda a energia da música de Minas, desde os tempos do Clube da Esquina. Nos sopros, a banda Base & Brass ainda tem Moisés Alves (trompete), Aldivas Ayres (trombone) que tocou com o Cidade Negra, Alcione, João Bosco, Elba Ramalho e Ed Motta. No contrabaixo acústico, Sérgio Barrozo é praticamente uma lenda viva que acompanhou a geração da bossa nova, formada por Vinicius de Moraes, Nara Leão, Maysa, Roberto Menescal, Elis Regina, Marcos Valle e muitos outros. Dario Galante (piano) é outro talento da B&B. Já se apresentou com várias feras, entre elas Mauro Senise, Carlos Malta, Pascoal Meirelles e o canadense Jean Pierre Zanella, além de ter aberto o festival de Jazz de New Orleans, em 2001. Na bateria, a B&B ainda tem o jovem Rafael Barata (bateria), que apesar da pouca idade, já coleciona muitas apresentações com nomes consagrados da MPB, como Rosa Passos, Edu Lobo, Zizi Possi, Osmar Milito, Durval Ferreira, Alan Fougeret, Zezé Motta, Emílio Santiago, Ney Matogrosso, Zé Renato, Hermeto Pascoal, entre outros nomes. Agradecemos ao Edú pela dica do novo CD, possívelmente estaremos postando o mesmo para ser baixado, valeu Edú!

Idriss Boudrioua


Biografia
Idriss nasceu no dia cinco de dezembro de 1958 em Massy Palaiseau, França. Iniciou seus estudos musicais aos onze anos no conservatório de Arpajon, com o professor Maurice Delabre, ex-integrante da orquestra da Guarda Republicana de Paris. Em 1981, atuou no disco do pianista Jean Pierre Mas, ao lado do baixista Cesário Alvim, do saxofonista Jean Louis Chautamps e do trompetista Cláudio Roditi. Ainda em Paris, participou de jam sessions com o trompetista Chet Baker, o saxofonista Bob Moover, a pianista Tânia Maria e outros músicos internacionais.

Já no Brasil - país sonhado desde criança -, tocou com vários instrumentistas brasileiros de nome internacional e, em 1986, apresentou-se no 2º Free Jazz Festival com seu quinteto. Em 1992, Idriss integrou o sexteto do trompetista francês, Jean Loup Longnon, fazendo várias apresentações na França. Na ocasião, encontrou os saxofonistas Steve Grossman e Jim Snidero, com quem teve o prazer de tocar.

Um dos saxofonistas mais requisitados no cenário brasileiro, Idriss tem acompanhado grandes nomes da mpb: Toninho Horta, Marcos Valle, João Donato, Fátima Guedes, Rosa Passos, Leny Andrade, Célia Vaz, Tito Madi, Johnny Alf, Joana, Silvio Cezar, Alexandre Pires, dentre outros -, em apresentações ao vivo ou em importantes registros fonográficos.

Seu cd em parceria com o guitarrista Alex Carvalho, "Central Park West", é considerado um dos melhores do gênero já lançados no Brasil. Idriss se apresentou em 2001 no Festival Internacional de Jazz de Berna (Suíça) com o clarinetista e saxofonista Paquito de Rivera, o trombonista Raul de Souza e o trompetista Cláudio Roditi. Em 2000, lançou "Joy Spring", que incluiu duas composições de sua autoria: "Mon ami Xande" e "Playing for Canuto", esta última dedicada ao também saxofonista Zé Canuto.

No início de 2004, Idriss integrou o quarteto de Michel Legrand em uma série de 12 apresentações no Mistura Fina, no Rio de Janeiro. Nessa mesma ocasião, gravou junto com Legrand um cd em homenagem ao pianista Luís Eça. Há 24 anos vem contribuindo para a formação de grandes saxofonistas.

Com quatro discos esgotados, lançou recentemente seu quinto trabalho, “Paris-Rio”, lançado pela gravadora Delira Música, onde presta homenagem aos encontros e aos amigos que pontuaram o seu percurso musical entre as duas cidades. Apresentando composições de sua autoria, neste cd o saxofonista é acompanhado por grandes músicos do cenário brasileiro e internacional.

Discografia
1986 Esperança - Visom
1987 Jamal - Visom
1996 Central Park West (c/ Alexandre Carvalho) - Independente
2000 Joy Spring - Independente
2004 Paris-Rio - Delira Música
2006-Base & Brass -

Delicatessen dá novo fôlego ao Jazz Brasileiro

Texto de Bárbara de Paula
Você gosta de Jazz? Sim?! Ótimo, temos boas novas. Se essa não for a sua ‘praia’, continue lendo assim mesmo porque você pode até não curtir jazz, mas uma vez que é leitor da Paradoxo, com certeza adora novidades. Nesta edição, a gente apresenta a você o álbum de estréia do Delicatessen, Jazz + Bossa, lançado este mês, pela Tratore.
Este projeto reuniu quatro músicos: Ana Krueger [Voz], Carlos Badia [Violão], Nico Bueno [Baixo], Mano Gomes [Bateria] e um publicitário aficionado por música, Beto Callage. Sabe no que deu? Em um disco fácil de ouvir, daquele tipo que você escuta sem pular nenhuma faixa e sem perceber o tempo passar.
Delicatessen surpreende pela simplicidade. O álbum é composto por 14 canções que mesclam o estilo cool e intimista das cantoras de jazz dos anos 1950 com a despretensão da bossa nova. Os arranjos são simples e sem afetações. A interpretação de Ana Krueger é impecável: ela, graças a Deus, foge do gargantismo e canta de forma doce e contida, o que não omite a potência de sua voz.
O repertório deste disco não é óbvio. Não espere ouvir canções que ficaram conhecidas nas vozes de Billie Holiday, Nina Simone ou Louis Amstrong, inerentes a coletâneas brasileiras de jazz [sic]. Este álbum apresenta canções menos populares, mas não menos clássicas como Angel Eyes, In A Mellow Tone, Black Coffee e In a Sentimental Mood. Vale destacar as duas faixas bônus, Todos os Dias e Setembro, compostas por Callage e Badia e cantadas em português.
Você, leitor antenado, deve estar imaginado que este projeto surgiu em São Paulo depois de uma jam session, assim como aconteceu com a big band Funk Como Le Gusta. Não! Eles são gaúchos, o que comprova que o sul do nosso País não produz apenas boas bandas de pop-rock.

Jazz brasileiro
Quando o assunto é jazz brasileiro, é quase impossível encontrar uma definição ou entrar em consenso. O Brasil é um caldeirão de ritmos e cada vez que eles são misturados, acabamos por criar novos e variados estilos musicais.
Imagine que já existe Afrojazz [jazz com batuque], que tem como representante o grupo Têrrero de Jesus, que apresenta interpretações jazzisticas de pontos cantados do Candomblé.
A partir desta dinâmica, Delicatessen é jazz brazuca porque bossa nova é música brasileira. Mas se existe jazz brasileiro, será que ainda haverá um samba americano ou europeu, Hein?! Hein?!
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Delicatessen, é a soma de três, experientes, e exelentes músicos, Carlos Badia (violão), Edu Martins (contrabaixo) e Mano Gomes (bateria), á delicadeza do canto, de Ana Kruger, uma cantora de grande potencial, que pertence a estirpe das raras cantoras sem vibratos, cuja voz cheia de previlégios é cristal. Daí a singularidade deste disco. Quem souber ouvir verá como ela faz bossa & jazz, sem maneirismos, sempre com a mesma ternura, o mesmo suingue. No disco, que conta com as participações especiais de Chico Ferreti (piano) e Luiz Fernando Rocha (flugelhorn), o quarteto recria doze standards do jazz de nomes como Duke Ellington, Burke & Webster, George & Ira Gershwin e Ray Noble, entre outros.Fonte Brazuca CD’s
Delicatessen Jazz + Bossa gravadora Tratore R$ 34, 90 em média